ARTIGO

Muito mais que leis severas: como estamos educando nossos homens?

Mato Grosso aparece novamente entre os estados com maior número de feminicídios do país. Só em 2024, foram 47 mulheres assassinadas. Nos primeiros seis meses de 2025, já são 26 feminicídios — um aumento de 31,6% em relação ao mesmo período do ano anterior. Tragicamente, 83% dessas mortes ocorreram dentro de casa, espaço que deveria ser de proteção.

Esses números chocam, mas também revelam uma realidade incômoda: não basta discutir apenas leis mais severas ou ampliar punições. Claro que a justiça é necessária, mas a raiz do problema exige um olhar mais profundo: como estamos educando nossos homens?

Pouco se fala sobre a formação emocional e social masculina. Estamos preparando nossos meninos para lidar com frustrações e separações de forma saudável? Ou seguimos criando homens frágeis diante de sentimentos comuns — como o fim de um relacionamento — que deveriam ser encarados com naturalidade, mas acabam se transformando em gatilhos de violência?

O feminicídio, muitas vezes, nasce da incapacidade de aceitar um “não”. Do homem que nunca aprendeu a respeitar decisões que não lhe favorecem, principalmente quando partem de uma mulher. Ensinar a não agredir não é suficiente. É preciso ensinar a respeitar escolhas, respeitar decisões, respeitar a liberdade feminina de estar ou não em um relacionamento.

Essa não é uma batalha exclusiva das mulheres, tampouco apenas do poder público. É uma luta coletiva, que precisa incluir os homens não apenas como potenciais agressores a serem contidos, mas como protagonistas de uma transformação cultural, revendo seus papéis e aprendendo a lidar com suas próprias dores.

O feminicídio não será vencido apenas no campo da lei. Ele será vencido dentro das casas, das escolas e nos exemplos cotidianos, quando homens e mulheres compreenderem — desde cedo — que amor não é posse, respeito não é medo e liberdade é um direito inegociável.

📍 Artigo de opinião de Ghonçalo Rodrigo – diretor do Portal Enjoy. Há mais de 20 anos, dedica-se à comunicação e à cultura em Mato Grosso. Líder do movimento plus size e da valorização da melhor idade no estado, desenvolve projetos voltados à diversidade, inclusão e transformação social.

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